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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Há um atlas para descobrir as paisagens portuguesas que vêm nos livros


Artigo de CRISTIANA FARIA MOREIRA para o jornal Público, em 16 de agosto de 2017:

A base de dados do atlas reúne quase 7 mil excertos recolhidos por "leitores de paisagens literárias", em mais de 350 obras, de 170 escritores, do século XIX aos dias de hoje. Mas ainda "há tudo por fazer".

"Hoje à tarde, quando visitava as penedias do Sirol — uma maravilha que a erosão das águas ali fez — e pasmava diante de uma inacreditável fachada românica natural, o bandido de um moleiro, a quem perguntei se aquilo não lhe dizia nada lá por dentro, respondeu-me tal e qual:

— Para quem nunca viu pedras..."

Conhecemos os nossos arredores, acostumamo-nos à paisagem que vemos todos os dias. E caímos no erro do moleiro que Miguel Torga escreveu num dos volumes do Diário, na entrada Leiria, 25 de Novembro de 1940, que se encerra na cegueira do quotidiano e não consegue olhar à volta e apreciar os elementos naturais e culturais que lhe compõe o dia-a-dia. Falta-nos, muitas vezes, encontrar-lhes um "significado", diz Ana Isabel Queiroz, a investigadora que coordena um projecto de investigação que quis criar uma espécie de atlas que nos permite calcorrear Portugal de Norte a Sul, guiados por escritores que pararam para observar a paisagem e que depois a escreveram.

Nascido para "valorizar a literatura e o território", as palavras e as paisagens, o património natural e cultural, como “elementos-chave das identidades locais e regionais”, o Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental funciona como um repositório de excertos literários de obras do século XIX até à actualidade. São compilados e classificados numa imensa base de dados, construída a muitas mãos, que agrega descrições de paisagens e as georreferencia de maneira a que se possa viajar pelo território e pela literatura ao mesmo tempo.

De que forma é que a literatura pode contar a história de um lugar, de uma rua, de uma aldeia, de uma cidade? "A literatura, o texto, é uma representação daquele território e ao lê-lo através daquela descrição, estamos a conferir-lhe significado. Estamos a dar-lhe a profundidade histórica, social, política, económica, humana. Deixa de ser um espaço sem sentido para ser um espaço com significado", explica a investigadora ao PÚBLICO.

Vamos então para a sala de visitas da capital, a Praça do Comércio, guiados por Hans Christian Andersen em Uma Visita em Portugal em 1866 e seguimos pela "larga Rua do Ouro. Aí estão os ourives, em lojas umas atrás das outras, exibindo correntes de ouro, condecorações e outros esplendores. Por esta rua se vai à maior praça da cidade, a Praça do Comércio, que se prolonga até à margem pavimentada do Tejo, onde estão os barcos ancorados. Em ambos os lados se ergue a cidade em forma de terraços sobre colinas de considerável altura".

No atlas podemos ainda viajar para Norte para o Porto de Maria Angelina e Raul Brandão, em Portugal Pequenino, "se não a mais bela, a mais pitoresca" cidade do mundo. Pelo meio do "nevoeiro que sobe, ascende" e "atropela tudo", com aqueles “bairros à beira rio” que fazem “uma cidade de sonho”, subimos "aquelas ruas íngremes", como "a dos Clérigos, com um grande dedo apontado para o céu".

E damos um pulo a Trás-os-Montes, onde podemos adivinhar que ali vamos encontrar um famoso trasmontano que é a voz de uma terra e de um povo, Miguel Torga, ou à região vizinha, a que Camilo Castelo Branco dedicou as suas oito Novelas do Minho. E não podia faltar o contributo de Eça de Queirós que em A Cidade e as Serras um dia trouxe Jacinto da sempre frenética Paris à pacata aldeia de Tormes, no Douro, onde havia de chegar à "pequenina estação", que apareceu "clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, e duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo".

Hoje, ainda desembarcam passageiros em Tormes, alguns em peregrinação literária à Casa-museu de Eça. Coisa dos tempos, esta peregrinação pode ser hoje feita sem sair de casa, através de uma aplicação, "que não funciona maravilhosamente", admite Ana, mas que nos permite percorrer Portugal (quase) de lés-a-lés, guiados por escritores, obras e temas ou saltando de concelho em concelho.


Tormes, descrito por Eça em A Cidade e as Serras


Sete anos depois do início deste projecto de investigação, desenvolvido em conjunto com o Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de História Contemporânea, a Fabula Urbis e a Fundação Eça de Queiroz, são quase sete mil excertos recolhidos por investigadores e por outros “leitores de paisagens literárias”, depois da leitura de mais de 350 obras de mais de 170 escritores, do século XIX aos dias de hoje. Mas ainda “há tudo por fazer” num mapa que ainda tem muito país por preencher.


"Os lugares são como as pessoas, têm que amadurecer"

Já percebemos que Miguel Torga, Camilo Castelo Branco ou Eça de Queirós são alguns dos escritores clássicos presentes nos habituais roteiros literários. Mas, porque esta base de dados se vai fazendo "pelo gosto dos cidadãos", muitos dos autores escolhidos fogem ao rol dos clássicos, permitindo contar as histórias dos espaços a partir de outras vozes.



O Cais das Colunas, na zona Ribeirinha de Lisboa, descrita por Lobo Antunes em As Naus.


Até porque cada autor tem a sua própria "geografia literária". Por exemplo, de António Lobo Antunes, há 213 excertos na zona de Lisboa. "As obras que temos do Lobo Antunes desenham o seu mapa literário. Nota-se que está mais concentrado em Lisboa, mas tem uma geografia própria" que vai além do espaço físico e espelha uma realidade social, política, económica, uma vivência ora mais urbana, ora mais rural, explica Ana Isabel Queiroz. Por isso, quis estudar a evolução da paisagem lisboeta e acabou a estudar 35 romances, desde o século XIX até à actualidade, que retratam a capital.

"Olhámos para todos da mesma forma, como se aquelas obras fossem todas uma, não sobre as palavras que usaram, mas sobre o espaço da cidade de Lisboa que utilizaram. E concluímos que os escritores do século XIX não retrataram a cidade da mesma maneira que os escritores da actualidade. Claro que já estávamos à espera que isso acontecesse. Mas não sabíamos quais eram as diferenças”, explica.

Dividiram os livros em quatro períodos: Monarquia, I República, Estado Novo e Democracia. Cartografaram todos os pontos que estavam dentro do romance e uniram-nos. "Chamamos a isto o espaço literário do livro", diz. E perceberam que no período da Monarquia o espaço comum é muito concentrado no centro da cidade, nas zonas do Chiado e Rossio, na República expande-se do centro, no Estado Novo volta a concentrar-se e já em Democracia volta a ser mais alargado.

"Aquilo que é a representação que mais escritores fazem vai-se ampliando. A noção de cidade vai aumentando”, nota. O imaginário da cidade na Democracia já não está confinado a esta "cidadezinha do século XIX". Mas, ressalva, que "apesar de a cidade ter aumentado, a parte literária não acompanhou esse crescimento". Porquê?

Porque há "uma espécie de tempo de espera" até que um espaço entre na cidade. "Há algum escritor a escrever agora sobre a Alta de Lisboa? Ainda não, porque aquilo ainda é considerado um subúrbio, um arredor, ainda não há histórias". E os lugares também precisam de um tempo de vivência. "Os lugares são como as pessoas, têm que amadurecer".


"Não deixamos de ter escritores a escrever paisagens literárias"

Este projecto de investigação tem vivido da divulgação, diz Ana Isabel Queiroz. Por isso, as leituras têm vindo para a rua ter com os leitores em percursos literários que começaram em 2012, com o propósito de pôr a literatura e contar a história da cidade. O último roteiro literário foi centrado no coração de Lisboa – do Chiado ao Marquês de Pombal - para marcar a abertura da Feira do Livro, em Junho passado.


Link



terça-feira, 7 de março de 2017

Os 10 blogues mais lidos em Portugal (e mais alguns)



"Num tempo em que todos têm Facebook, muitos aderem ao Instagram e vários comunicam através do Twitter, ainda há espaço para os blogues? Quem toma conta dos seus com afinco não tem dúvidas. O i dá-lhe a conhecer os mais populares

Se recuarmos 15 anos, chegamos a um mundo sem Facebook, Instagram ou Twitter. Já comunicávamos através de telemóveis e sabíamos usar a internet, mas uma nova forma de interagir estava a começar a dar nas vistas: os blogues.

Hoje em dia, alguns bloggers portugueses continuam a ter milhares de leitores, mas a maioria acabou por perder terreno com o crescimento das redes sociais. Para Paulo Querido, jornalista e autor de livros como “Blogs” e “O Futuro da Internet”, este problema era “previsível”, pois a componente social – elementar na disseminação dos blogues – foi transferida na sua totalidade para as redes sociais. “Portugal não fugiu à regra internacional de perda de socialização para os sites Facebook e Twitter, sobretudo”, explica ao i.

O especialista aponta duas razões para a preferência das redes sociais: o imediatismo das reações e a forma como os conteúdos são disponibilizados aos utilizadores. “As plataformas organizadas, como o Facebook e o Twitter, produzem gratificação mais rápida, praticamente instantânea. [Para além disso], especializaram-se em modelos editoriais e de distribuição de conteúdos que são muito superiores às ferramentas disponíveis nas plataformas de edição de blogues”, afirma Paulo Querido.

Se as redes sociais tiraram “mercado” aos blogues, há, também nesta área, quem as tenha sabido usar em seu proveito e o fenómeno não desapareceu completamente. As páginas no Facebook e no Instagram, por exemplo, ajudam os autores a publicitar os seus blogues, angariando mais leitores. “Planeamentos específicos podem canalizar tráfego para os blogues e gerar algumas comunidades em torno de ideias e conceitos”, diz Paulo Querido. Mas a blogosfera portuguesa tem um calcanhar de Aquiles importante quando se trata de tirar partido das redes sociais: “É maioritariamente genérica, individualista e sem foco”, frisa o especialista, que alerta para o cansaço que o trabalho em duas plataformas diferentes pode provocar: “[Usar as redes sociais como forma de publicitar os blogues] envolve uma grande carga de trabalho e um sentimento de inutilidade, pois a maioria desse trabalho vai beneficiar as plataformas, sobrando muito pouco para os bloggers. Mas não há grandes alternativas.”

Se o enquadramento é este, o facto é que há bloggers que continuam a atrair milhares de leitores. E trabalham para isso.

O blogue mais doce

Segundo o site Blogómetro, página que fornece estatísticas relacionadas com as visitas aos blogues portugueses, os blogues dedicados ao lifestyle e ao desporto dominam a lista das páginas com mais visualizações, possuindo a maioria conta nas redes sociais.

“A Pipoca Mais Doce” é, provavelmente, o blogue mais conhecido de todos e ocupa o primeiro lugar neste ranking, com uma média diária de 26 184 visitas. É apresentado como um “blog pessoal, (às vezes) humorístico e (quase sempre) sarcástico”, e aborda vários temas – da literatura à saúde, passando por futebol, cultura, restaurantes, viagens, temas de atualidade e peripécias do dia-a-dia da autora, Ana Garcia Martins.

“O blogue foi criado em janeiro de 2004 e coincidiu com a altura em que comecei a trabalhar como jornalista. Fui para jornalismo por ser a profissão que me permitia fazer o que eu mais gostava – escrever –, e não tanto por aquela coisa da investigação ou de conseguir manchetes”, lembra ao i Ana Garcia Martins.

“Quando comecei a trabalhar (na altura, no jornal “A Capital”) rapidamente percebi que o meu tipo de escrita e as coisas sobre as quais eu gostava de escrever não tinham espaço num jornal, por contingências editoriais óbvias, por isso vi nos blogues – que estavam a surgir naquela altura – uma ótima plataforma para divagar sobre tudo o que me apetecesse.”

Quando “A Pipoca Mais Doce” surgiu, a blogosfera estava a dar os primeiros passos em Portugal e era difícil angariar leitores. No caso de Ana Garcia Martins, o “passa-palavra” funcionou e, aos poucos, começou a formar-se uma comunidade de seguidores, algo que hoje em dia, com as redes sociais, parece muito mais fácil de conquistar. “Há 13 anos era inimaginável pensar no conceito de ‘blogger profissional’. A verdade é que o blogue acabou por ter um crescimento brutal, superou todas as minhas expectativas. De repente tornou-se um dos blogues mais lidos em Portugal e, mais do que isso, transformou-se no meu trabalho. Felizmente, a curva continua a ser ascendente, por isso acho que a evolução tem sido muito positiva.”

No total, o blogue já acumulou quase 90 milhões de visualizações, apesar de o contador de visitas só ter sido instalado cerca de seis anos depois da criação do mesmo. Mas “A Pipoca” também está nas redes sociais: no Instagram, Ana Garcia Martins tem mais de 142 mil seguidores, e no Facebook mais de 246 mil “gostos”. O segredo do sucesso? Existir uma identificação entre quem escreve e quem lê, defende Ana Garcia Martins: “Acho que os leitores se identificaram com as minhas histórias por eu ser um bocadinho a ‘girl next door’: alguém com problemas, preocupações e alegrias iguais às de tantas outras pessoas. Por outro lado, é um blogue que nunca se escusou a ter uma opinião, independentemente do assunto. Hoje em dia, a grande maioria dos blogues parece-me demasiado neutra, quase como se se receasse dizer o que realmente se pensa.”

No Poupar está o ganho

“A Pipoca Mais Doce” não é único exemplo de êxito em Portugal. No segundo lugar da lista do Blogómetro surge a página “Poupadinhos e com Vales”, um blogue dedicado (como refere a página) à poupança e criado em 2013. Teve a sua origem num grupo fechado no Facebook que em menos de uma semana conseguiu cinco mil membros.

“Sempre fui uma pessoa muito poupada e sonhava mesmo com isto. Queria muito que as pessoas fizessem o mesmo que eu e que descobrissem o quanto era fantástico este mundo das poupanças”, conta ao i Janine Medeira, autora da página. O blogue surge em pleno pico da crise e foi fácil ganhar seguidores. “Era uma espécie de sonho guardado que pensei não vir a concretizar. Quando comecei a receber agradecimentos vindos de todo o país, percebi que tinha atingido o objetivo principal: ensinar os meus grandes truques de poupança e pôr toda a gente a poupar.”

Professora na Universidade do Algarve e com uma vida profissional bastante preenchida, Janine teve de deixar o emprego que tinha em duas escolas – onde dava formação – para conseguir alimentar o blogue que, ao fim de três anos de existência, venceu o prémio de melhor Blogue na Categoria de Economia e Negócios a nível nacional. “Fi-lo porque vi muito potencial na plataforma e as pessoas esperavam por artigos novos, por respostas às suas mensagens, emails e comentários. Não podia desiludir quem confiava em mim. Fiz o blogue para ajudar as pessoas: não conseguia deixá-las à espera durante dias para só depois responder às suas dúvidas.” A ideia acabou por mudar-lhe a vida. “A nível pessoal, atualmente tento trabalhar a todo o gás enquanto os miúdos estão na escola, para depois me dedicar a 100% à família assim que todos chegam a casa.”

O blogue oferece as últimas novidades no que diz respeito a promoções, vales e amostras, seja qual for a área de consumo. Mas, além disso, Janine criou rubricas próprias onde dá dicas sobre vários temas, como moda e culinária – sempre apresentando os preços mais baixos.

Ao longo dos últimos quatro anos, já acumulou mais de 28 milhões de visualizações. E, no Facebook, a página do blogue tem mais de 233 mil “gostos”.

Uma cozinha para todos

No terceiro lugar da lista dos blogues mais lidos surge o “Benficaholic”, uma página dedicada ao Benfica, apresentando as últimas notícias relacionadas principalmente com a equipa de futebol do clube. Tem uma média de 1992 visitas diárias.

Logo a seguir surge um blogue completamente diferente, o “Cinco Quartos de Laranja”, com publicações dedicadas ao paladar e à criatividade na cozinha. Criado por Isabel Zibaia Rafael há 11 anos, este é um dos blogues portugueses mais antigos da blogosfera na área da alimentação e viagens, a publicar sem interrupções desde a data de lançamento.

O nome é curioso, mas também tem uma explicação simples. “A ideia surgiu ao ler o romance da escritora Joanne Harris ‘Cinco Quartos de Laranja’. Na altura senti necessidade de falar da minha vida tendo como ponto de partida a comida, tal como acontecia na obra. No romance existe uma herança que é um livro de receitas que a autora usa para falar dos aspetos que marcaram a sua vida e da sua família. Gostei tanto da ideia que decidi fazer algo idêntico”, lembra ao i a autora.

O blogue procura, para além de partilhar receitas, explorar viagens, visitas a restaurantes, idas ao cinema, livros, dicas e outros assuntos pessoais. Isabel Zibaia Rafael faz um planeamento semanal daquilo que tenciona escrever, tendo sempre como base os restaurantes que frequenta, os pratos que faz em casa e as experiências do seu dia-a-dia.

Também Isabel soube aproveitar o alcance das redes sociais. Tem uma página no Facebook com mais de 147 mil “gostos” e já conquistou mais de 3900 seguidores no Instagram, que acompanham o trabalho que vai desenvolvendo no blogue. Segundo a autora, a mudança nas interações sociais na internet, nos últimos anos, não trouxe qualquer estagnação ao projeto. Tanto o blogue como as páginas nas redes sociais têm tido um crescimento constante.

Em 2016, o blogue registou mais de 10 mil visualizações por dia e foi este sucesso que fez com que, desde há dois anos, Isabel conseguisse dedicar-se a tempo inteiro às suas plataformas: “Neste momento, para além de rubricas patrocinadas e exploração da publicidade no blogue, promovo workshops de cozinha em Lisboa e no Porto e realizo showcookings para marcas. Participo também em eventos e palestras, e colaboro regularmente com revistas. Desenvolvo receitas para marcas tanto nacionais como estrangeiras”, enumera. E, desde 2012, já publicou três livros de cozinha (“Cozinha para Dias Felizes”, “Delicioso Piquenique” e “O Livro de Petiscos da Isabel”). No ano passado foi presença assídua na televisão, com uma colaboração às quartas- -feiras no programa da RTP1 “A Praça”. E o trabalho nunca para. “Há sempre emails a responder, sejam convites, dúvidas dos leitores ou envio de orçamento”, explica. “O ‘Cinco Quartos de Laranja’ é uma paixão!”

A fechar o top-5 divulgado pelo Blogómetro está “A Mulher É Que Manda”, um blogue criado por Mónica Santana Lopes para partilhar as suas experiências como mulher e mãe, os seus gostos e ansiedades e o seu quotidiano.

“[É possível alimentar este blogue] com muita organização, menos horas de sono, mais olheiras e rugas”, resume a autora. “Sou responsável de comunicação de um centro hospitalar, por isso, o meu dia é dedicado ao emprego. Quando saio, dedico-me às minhas filhas, ao meu marido e à casa, e quando elas se deitam atiro-me ao blogue. Durante o fim de semana também dedico parte do tempo a escrever, a criar, a fazer produções fotográficas… Mas tentando sempre conseguir conciliar tudo isto com o tempo de família.”

Mónica Santana Lopes acredita que o segredo por detrás dos cinco anos de sucesso do projeto reside no facto de ser genuíno e não imitar o que já existe. “Aprendi muito, mudei bastante como pessoa, na forma como me apresento ou escrevo. Perdi medos e vergonhas, por isso acho que o blogue me tem feito evoluir como blogger e como pessoa”, afirma a autora, que conta já com mais de seis milhões de visualizações no seu blogue e 114 mil seguidores no Facebook.

Um “blogue-farmácia”

A lista dos dez blogues mais lidos em Portugal completa-se com páginas dedicadas aos mais diferentes temas.

No sexto lugar surge “Internet para Todos”, um blogue dedicado à tecnologia que, apesar de não ser atualizado desde 2014, continua a estar entre os mais vistos.

Segue-se “As Minhas Pequenas Coisas”, um blogue simples que fala sobre aspetos do dia-a-dia e gostos pessoais – maternidade, moda, música, comida, tudo o que faz parte do quotidiano de uma mulher está naquele blogue.

A oitava posição vai para o “Aspirina B”, um blogue dedicado a questões políticas e à atualidade nacional. Na décima posição está “Deixa Passar o Maior de Portugal”, outro blogue dedicado ao Benfica. Pelo meio, na 9.a posição do ranking do Blogómetro está o “Quadripolaridades”, criado em 2007 por duas pessoas com ideias completamente diferentes (daí a polaridade no nome).

“Não é propriamente um blogue temático. O meu marido chama-lhe, com alguma graça, ‘blogue-farmácia’, pois diz que se pode encontrar de tudo por lá”, explica Liliana, a autora que mantém a página ativa e que começou a dedicar-se aos blogues em 2004, “na altura em que as pessoas nem sabiam bem o que era um blogue”.

Não tendo um tema nem uma linha exclusiva como fio condutor, acaba por abordar temas da atualidade, estados de espírito, críticas sociais e reflexões mais íntimas. “Não o considero um blogue de lifestyle, mas acaba por ser uma espécie de diário digital”, diz a autora.

O “Quadripolaridades” faz agora dez anos e desde 2012 que Liliana abdicou do anonimato para participar na organização de um evento solidário. “A perda do anonimato trouxe uma série de pessoas (familiares, amigos, colegas de trabalho) a lerem o blogue, o que veio gradualmente a hipotecar alguns temas sobre os quais me dava algum gozo desabafar mas que, nesta nova dinâmica, deixa de fazer sentido verem a luz do dia”, confessa a autora.

Quanto à “rivalidade” entre blogues e redes sociais, Liliana concorda que estas plataformas se complementam: “As redes sociais trouxeram uma maior mediatização das pessoas que escrevem blogues, vincando-lhes a sua identidade real, permitindo que leitores pesquisem no Facebook as suas relações familiares, no Linked-In os nomes de entidades empregadoras e, no Instagram, rotinas e espaços. Penso que as redes sociais aproximam os leitores dos bloggers e alimentam a leitura dos respetivos blogues”, conclui Liliana, que tem mais de 19 mil “gostos” no Facebook.

Os menos conhecidos

Os blogues de figuras públicas tendem a ter sempre mais destaque. O comentador Cláudio Ramos fala sobre a atualidade cor-de- -rosa na sua página “Eu, Cláudio” e a apresentadora Cristina Ferreira dedica--se à moda, viagens e gastronomia na sua página “Daily Cristina”. Fátima Lopes e Teresa Guilherme são outras apresentadoras com blogues ativos.

Mas, neste mundo dos diários online, não é preciso ser famoso para ter centenas de fãs e há muitos outros blogues que, não estando no top-10 do Blogómetro, são casos de sucesso. Podem não dar tanto nas vistas, mas mantêm um número de seguidores fiéis que os acompanha ao longo de centenas de publicações.

É o caso de Mafalda Sousa, uma mulher de Abrantes que gere o blogue “A Felicidade é o Caminho”, dedicado a temas que fazem a autora (e quem a lê) feliz.

Com mais de dois milhões de visualizações, o projeto requer uma boa dose de planeamento. “Para que as coisas funcionem, tenho um mapa de tarefas onde planeio o que devo fazer ao longo do dia”, explica a autora.

Todos os dias faz pesquisas para futuras publicações, basicamente sempre que tem uma pausa ou antes de dormir. “Também estou habituada a levantar- -me cedo, cerca das seis. E é nesse horário que consigo escrever, normalmente ao fim de semana. Não escrevo tanto quanto gostaria, mas de momento é o que é possível”, conta Mafalda Sousa.

Numa blogosfera que continua a ter centenas de páginas para explorar em português, os métodos de quem está do outro lado do ecrã são tão variados como os temas. Carlos Fernandes, autor do blogue “Vício da Poesia”, prefere não ter um plano de tarefas e escreve apenas quando lhe apetece: “Apenas publico quando estou satisfeito com o que escrevi. E de entre os variados artigos em desenvolvimento simultâneo, condições fortuitas fazem com que este ou aquele me satisfaça e publique.”

Já o blogue do escritor e jornalista José de Matos-Cruz, “Imaginário-Kafre”, funciona de uma forma completamente diferente: “Tem uma apresentação semanal, uniforme e sistematizada, com incidência virtualmente histórica. Quando existem temas de atualidade que considere relevantes, são inseridos como ‘Extra’”, explicou o autor ao i.

Catherine Labey e Jorge Magalhães nasceram em 1945 e 1938, respetivamente. São, por isso, bloggers maduros e mostram como não há limites para qualquer um se iniciar nestas lides. Têm vários blogues dedicados principalmente à pintura e literatura, destacando-se as páginas “O Gato Alfarrabista” (sobre banda desenhada) e “O Voo do Mosquito” (dedicado à revista “Mosquito”). “Criámos cada blogue com determinado objetivo. Eu sou ilustradora e gráfica e adoro gatos. Jorge Magalhães está como peixe na água em relação à BD, de que é grande colecionador, e porque dirigiu várias revistas da especialidade, como o ‘Mundo de Aventuras’, entre 1974 e 1987”, sublinha Catherine ao i.

Se o investimento em tempo e ideias é grande, os autores chegam a locais que nunca imaginariam alcançar: “Descobri que os gatos são um tema muito apreciado. O meu blogue ‘Gatos, Gatinhos e Gatarrões’ é visto nos cinco continentes, em países que nunca sonhei poder visitar”, remata a autora".




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Pessoas sem filhos vs Pessoas com filhos: uma crónica certeira

Alguns destes pontos assentam-me como uma luva! :)




As pessoas sem filhos anseiam por sexta-feira. As pessoas com filhos temem-na.
As pessoas sem filhos têm cartões de cinema ilimitado. As pessoas com filhos têm cartão IKEA family.
Para relaxar as pessoas sem filhos vão para o ginásio. As pessoas com filhos vão para o trabalho.
As pessoas sem filhos escolhem o restaurante em função do menu, do preço, do chef, da decoração ou da localização. As pessoas com filhos entram no primeiro restaurante que tenha cadeiras para crianças.
Ao sábado à noite, as pessoas sem filhos vão jantar fora, ao cinema e a um bar. As pessoas com filhos vão à cozinha aquecer restos no microondas, vêem meio episódio de uma sitcom e adormecem no sofá.
As pessoas sem filhos comem cereais, torradas, sumo de laranja e café ao pequeno-almoço. As pessoas com filhos também, mas metade disso vai parar à roupa, à carpete e aos cortinados.
As pessoas sem filhos sentam-se no sofá a ler um livro e a beber um chá. As pessoas com filhos sentam-se na sanita e fecham a porta da casa de banho à chave para terem 5 minutinhos de relax.
As pessoas sem filhos vão ao supermercado, fazem compras e regressam a casa. As pessoas com filhos vão ao supermercado, perseguem-nos até à charcutaria, arrancam-lhes coisas das mãos, tremem quando eles enfiam pelo corredor dos vinhos, negoceiam, chantageiam e regressam a casa percebendo que afinal se esqueceram “da porra das fraldas”.
As pessoas sem filhos vão domir. As pessoas com filhos vão fazer óó.
As pessoas sem filhos acordam com o despertador. As pessoas com filhos gostariam de acordar com o despertador.
As pessoas sem filhos vão a esplanadas e ao cabeleireiro. As pessoas com filhos vão a parques infantis e ao pediatra.
As pessoas sem filhos não sabem quem é a Xana Toc Toc. As pessoas com filhos preferiam não saber quem é a Xana Toc Toc.
As pessoas sem filhos comem sobremesas. As pessoas com filhos escondem-se na cozinha e comem dois quadrados de chocolate para cima do lava-louças. Quando apanhadas em flagrante, as pessoas com filhos dizem que é medicamento e emborcam meio copo de água para validar a farsa.
As pessoas sem filhos viajam com uma mochila. As pessoas com filhos têm esgotamentos nervosos diante de malas.
As pessoas sem filhos praguejam como estivadores. As pessoas com filhos começam a usar termos como “diacho”, “bolas” e “caneco” quando esfacelam o dedão contra o pé do sofá.
As pessoas sem filhos vêem thrillers, dramas, biopics… As pessoas com filhos vêem o Pocoyo.
As pessoas sem filhos mudam de camisa se esta tiver uma nódoa. As pessoas com filhos só mudam a camisa se ela estiver vomitada.

Crónica de Susana Almeida Ribeiro para o Público, 20/10/2014

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um amor desinteressado


Já repararam que ela prefere a foto do tractor à foto do cavalheiro!!! Isto promete vir a ser um grande amor.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O jornalismo pelo poema de Cecília Meireles / Reading the morning newspaper


Trent Gudmundsen



Jornal, longe

Que faremos destes jornais, com telegramas, notícias,
anúncios, fotografias, opiniões...?

Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.

Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.

De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.

Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
"Os jornais servem para fazer embrulhos".

E é uma das raras vezes em que todos estão de acordo.


Cecília Meireles, in 'Mar Absoluto'

sábado, 29 de junho de 2013

Seis escritores portugueses vão dar continuidade a «Os Maias» de Eça de Queiroz: cuidado, quem te avisa amigo d'Eça é!




Este é um projecto muito ambicioso, vejam lá que escritores escolhem/escolheram, porque tentar pegar na pena de Eça é uma responsabilidade "do caraças". Ninguém escreve como ele, tão bem, com uma ironia tão fina...essa é que é Eça!

O romance «Os Maias», de Eça de Queiroz, vai ser continuado por seis escritores portugueses, numa narrativa que irá de 1888 a 1973.

«Os novos Maias» inicia-se precisamente no ano seguinte ao que Eça de Queiroz terminou o seu romance com uma cena em que Carlos da Maia e o amigo João da Ega afirmam que «não vale a pena correr para nada» e acabam por correr para apanhar um elétrico que os leve a um jantar para o qual estão atrasados.
A iniciativa de dar continuidade à obra-prima de Eça de Queiroz, é do semanário Expresso que comemora 40 anos, contando com o apoio da Fundação Eça de Queiroz, e os escritores convidados são José Luís Peixoto, José Eduardo Agualusa, Mário Zambujal, José Rentes de Carvalho, Gonçalo M. Tavares e Clara Ferreira Alves.
A partir de 03 de agosto com a edição do semanário é publicado um fascículo de «Os novos Maias».
«Os Maias terminam com o regresso de Carlos da Maia a Portugal e o assumir de que foi um falhado da vida, agora é a hora de perceber o que aconteceu depois», disse à Lusa fonte do semanário.
«A cada autor foi destinado um período de tempo histórico e cada capítulo tem como pivô a personagem Carlos da Maia. Cada um será responsável por o encadear da história até ao ano de 1973, em vésperas do 25 de abril, e no ano em que foi fundado o semanário», disse a mesma fonte.
O romance de Eça de Queiroz foi publicado em 1888 no Porto, e a par da saga de uma família narra o amor incestuoso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda. O romance de Eça decorre na segunda metade do século XIX, e tem por fundo a história de três gerações da família Maia, que tinha o palacete «O Ramalhete», às Janelas Verdes, em Lisboa, e ainda várias quintas, entre elas, uma em Benfica e outra na Tojeira, que venderam, e a de Santa Olávia, na região de Resende, próxima do rio Douro.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"Vale a pena ler um livro": electrónico ou em papel?

Aqui fica um artigo de opinião de

"O audiovisual continua a alastrar a sua intervenção e com a sua enorme capacidade sedutora continua a chegar a muitos cidadãos. De entre os diversos conteúdos acessíveis no moderno audiovisual podemos destacar o livro eletrónico, uma novidade que vai naturalmente ganhando novos adeptos.
Mas sabemos como o mundo da eletrónica evolui vertiginosamente.
Rapidamente um utensílio fica desatualizado, passa de moda, sendo colocado facilmente de lado pelo utilizador que ambiciona manipular o que surge de mais recente, utilizar o mais moderno. Mesmo reconhecendo-se que um utensílio tem validade, troca-se por já não oferecer o estímulo da novidade.
Um livro eletrónico, apaga-se ou então, qual ficheiro colecionável, arquiva-se num local como grão de areia.
Mas um livro de papel…
Vale a pena ler um livro, folheá-lo, é uma relação mais quentinha.
Na montra ou no expositor dá-nos uma imagem e quando lhe pegamos tem um volume que se sente facilmente a três dimensões; tem uma capa e uma contracapa, dura ou mole, tem um odor, porventura um cheiro a novo, e tem um conteúdo que lido e entendido pode acompanhar uma vida.
Um livro de papel pode passar a fazer parte de quem o lê, das suas atitudes, dos seus sentimentos e emoções. Pode tornar-se numa companhia que pelo menos, havendo claridade está sempre disponível para permitir uma relação de intimidade mais ou menos prolongada com os conteúdos que estão escritos, e com as mensagens desencadeadas no leitor.
Um livro é um objeto com história, com um antes, um durante e um depois e sendo um livro de papel, não passa de moda, porque ao ser lido está na moda de quem o lê. Oferece materialmente uma estabilidade de relação com o leitor que é muito mais segura, fiel e palpável do que o virtual.
Um livro de papel olha-se e vê-se, abre-se e fecha-se, toca-se e sente-se, no todo ou em parte, ou página a página ou em várias partes.
Sente-se e pode-se ouvir o virar da página feito com um dedo porventura humedecido ou feito com vários dedos. E de seguida pode fixar-se a página virada afagando com os dedos, seja um livro de bolso ou um livro maior. E se teimosamente insiste em se fechar, com o polegar fazemos a pressão adequada para que se mantenha o livro aberto.
Um livro de papel pode-se estimar, há quem forre um determinado livro, quem lhe ponha uma capa para o proteger. Também se pode sublinhar e há quem o faça inúmeras vezes, como que a vincar o valor das palavras, a intensidade do pensamento ali escrito.
Um livro de papel faculta um sentido de posse, ou da estima, da utilidade, da memória para futuro, eventualmente reforçada com uma pérola como seja uma dedicatória que alguém escreveu para transmitir carinho, afeição, muita dedicação ou até e apenas respeito, de quem assina para quem o recebeu.
Há quem personalize a sua posse e lá escreva o seu nome e morada, ou quem lhe coloque um carimbo pessoal, familiar ou institucional.
Um livro para uma criança? Mas isso pode ser um bem extraordinário.
Um dicionário? Que maravilha para a criança passear os seus dedos, olhar, ver e adquirir conhecimento. Que bela pedagogia.
Uma criança pode colher da leitura de um livro benefícios que não colhe do ecrã do computador e da Internet, nomeadamente na manipulação das folhas reais desse objeto porventura facilmente transportável, que pode ser bastante resistente e bastante seguro, que pode ser sua pertença juntamente com muitos outros, e que também pode oferecer e trocar.
Tendo imagens fixas, não emitindo radiações, um livro para uma criança pode ter conteúdos que estimulam a fantasia, o imaginário, o interesse pelas histórias, pelo futuro, e que permitem armazenar informação selecionada e que foi escolhida pelos autores de quem o imaginou e construiu.
Sim, porque apesar de tudo, a publicação de um livro de papel passa por diversos intervenientes com critérios, com níveis de responsabilidade e de saber mais exigentes do que muito do que se pode encontrar no mundo da Internet.
Em boa verdade o crescente mega mundo universal da Internet tem outros critérios de publicação e de emissão do que está disponível. Sendo avassalador o seu imediatismo e poder de atração com som e imagem de qualidades extraordinárias, exige muito mais atenção e muitos cuidados perante o acesso de um clique feito por uma criança.
E a situação pode piorar deveras quando se trata de uma criança desprevenida e que não esteja acompanhada por quem a respeite, e ajude a escolher por onde navegar sem lhe provocar algum dano no seu mundo interno e relacional.
Há que reconhecer que de um modo geral, um livro de papel foi selecionado e está disponível com outros critérios e interesses, que podem nada ter a ver com os critérios e interesses de muitos dos materiais virtuais colocados nas redes/web".

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ainda o caso Relvas: "Carta aberta ao reitor da Universidade Lusófona"



Exmo. Reitor.
Foi com grande satisfação que soube que a Universidade Lusófona conferiu uma licenciatura em Ciência Política ao Dr. Miguel Relvas em apenas 14 meses, reconhecendo dessa forma a sua elevada estatura intelectual. Sempre sonhei com o alargamento das Novas Oportunidades ao Ensino Superior e fiquei muito feliz por terem dado o devido valor à cadeira de Direito que o senhor ministro fez há 27 anos com nota 10. Depois, naturalmente, o processo foi "encurtado por equivalências reconhecidas" (palavras do Dr. Relvas), após análise do seu magnífico currículo profissional.

É dentro desse mesmo espírito que vinha agora solicitar igual tratamento para a minha pessoa. Embora seja licenciado pela Universidade Nova com uns simpáticos 17 valores, a verdade é que o curso levou--me quatro anos a concluir e o Jornalismo anda pela hora da morte. Nesse sentido, e após análise da oferta disponível no site da universidade, venho por este meio requerer a atribuição do grau de licenciado em: Animação Digital (tenho visto muitos desenhos animados com os meus filhos), Ciência das Religiões (às vezes vou à missa), Ciências Aeronáuticas (já viajei muito de avião), Ciências da Nutrição (como imensa fruta), Direito (fui duas vezes processado), Economia (sustento uma família numerosa), Fotografia (tiro sempre nas férias) e Turismo (visitei 15 países). Já agora, se a Universidade Lusófona vier a ministrar Medicina, não se esqueça de mim. A minha mulher é médica, e tendo em conta que eu durmo com ela há mais de dez anos, estou certo de que em seis meses posso perfeitamente ser doutor.

Respeitosamente,
João Miguel Tavares



Por João Miguel Tavares (jmtavares@cmjornal.pt)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ler é uma necessidade humana / Humans have the need to read


Um estudo científico revela que a leitura é uma necessidade humana. Daí que os avanços tecnológicos ou a situação de crise não levem a que as pessoas ponham os livros de lado. Em papel ou em formato digital, ler continua a ser uma prioridade.

«Why should we bother reading a book? All children say this occasionally. Many of the 12 million adults in Britain with reading difficulties repeat it to themselves daily. But for the first time in the 500 years since Johannes Gutenberg democratised reading, many among our educated classes are also asking why, in a world of accelerating technology, increasing time poverty and diminishing attention spans, should they invest precious time sinking into a good book?

The beginnings of an answer lie in the same technology that has posed the question. Psychologists from Washington University used brain scans to see what happens inside our heads when we read stories. They found that "readers mentally simulate each new situation encountered in a narrative". The brain weaves these situations together with experiences from its own life to create a new mental synthesis. Reading a book leaves us with new neural pathways.

The discovery that our brains are physically changed by the experience of reading is something many of us will understand instinctively, as we think back to the way an extraordinary book had a transformative effect on the way we viewed the world. This transformation only takes place when we lose ourselves in a book, abandoning the emotional and mental chatter of the real world. That's why studies have found this kind of deep reading makes us more empathetic, or as Nicholas Carr puts it in his essay, The Dreams of Readers, "more alert to the inner lives of others".»

Leia o resto do artigo do jornal The Guardian AQUI.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A cobertura jornalística da história dos 3 porquinhos / Three Little Pigs on The Guardian







Uma campanha do jornal The Guardian que mostra como este jornal faria a cobertura da história dos 3 porquinhos quer na edição impressa quer on-line, das manchetes às discussões nas redes sociais.

Mais AQUI e AQUI.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O primeiro contacto técnico do FMI


"Hotel Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe? E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares. Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel. Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum. Se fosse comigo era tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro... Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho".

De Ferreira Fernandes para o DN em 13 de Abril de 2011 

Muuuito bom!!!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O demónio analógico continua a assombrar o universo dos livros digitais




A revista Atual, que integra o semanário Expresso, publicou em 12 de Fevereiro de 2011 um interessante artigo de António Guerreiro intitulado "O livro digital e o demónio da analogia". Aqui publico excertos. Destaquei algumas frases a negrito, aquela que oferece a resposta à questão frequentemente colocada: Para que servem os bibliotecários na era do digital e da internet? 
As promessas contidas no livro digital exercem um grande fascínio, mas maior é a resistência do livro impresso e não se vislumbra a sua morte.

Há quase meio século, escutou-se pela primeira vez a profecia da morte do livro impresso. Foi em 1962, e o profeta tinha nome que haveria de soar a visionário: Marshall McLuhan.
 
Reiterada de tempos a tempos, reativada como um programa inevitável a partir do momento em que a Internet e os motores de busca passaram a fazer parte do quotidiano, em meados dos anos 90, a profecia não se cumpriu: a "galáxia de Gutenberg" não passou a ser uma coisa do passado, e a espécie do Homo typographicus continuou a crescer e a multiplicar-se, ainda que a sua condição seja agora híbrida, já que passou também a responder - e todos nós sabemos com que solicitude e velocidade - às solicitações da era digital.

Certo é que o caudal dos livros que se folheiam com os dedos, os livros impressos, não parou de aumentar. Robert Darnton (ver bibliografia no final do artigo), um dos mais importantes historiadores do livro e diretor da Biblioteca Universitária de Harvard, fornece os números desta marcha progressiva, num tempo que se esperava ser de abrandamento: em 1998 foram publicados em todo o mundo 700.000 novos títulos, em 2003 foram 859.000 e em 2007 foram 976.000.

Em suma, o mais velho instrumento de leitura - o códex - não apenas não foi expulso (de acordo com a velha teoria de que um novo meio de comunicação nunca exclui completamente o anterior) como manteve a sua posição de domínio absoluto.

(...)

As razões da perenidade deste aparelho extraordinário encontram-se nestas características: armazena muita informação em pouco espaço, arruma-se e transporta-se facilmente, tem um formato que o torna bastante manuseável, e a matéria de que é feito - o papel - não encontrou rival na capacidade de preservação (um dos receios mais justificados que os suportes digitais suscitam é o de estarem longe de garantir uma tal longevidade).
 
(...)

E dá-se, ao mesmo tempo, uma revolução da leitura, pois ler num ecrã não é o mesmo que ler num códex. A representação eletrónica dos textos modifica-os totalmente: a materialidade do livro dá lugar à imaterialidade do texto sem lugar próprio; e as relações de contiguidade impostas pela técnica de sucessão das páginas impressas (o que impõe uma leitura linear) opõe-se a uma livre composição fragmentária a que o digital convida.

Como observou Roger Chartier, estas mutações comandam inevitavelmente novas técnicas intelectuais.

Mas a razão pela qual os livros digitais não cumpriram exatamente o percurso triunfal que lhes tinha sido prometido no momento em que entraram em cena não tem a ver com resistências racionalmente elaboradas em função de danos e conveniências previsíveis, mas sim com hábitos, sensações e vícios incrustados no corpo e no cérebro do leitor pela civilização do livro impresso.

(...)

Mas há também uma disposição sensorial que o brilho do ecrã não satisfaz: aquela que retira prazer do cheiro e da textura do papel, das formas da encadernação.
 
De tal modo que um editor francês de livros eletrónicos (CaféScribe) tentou superar esta resistência fornecendo aos seus clientes um autocolante, para eles colocarem no computador, que emite um odor a papel.

Pode-se objetar que estes atavismos são próprios de quem se habituou à leitura nos livros impressos mas não contaminam quem se iniciou e cresceu com os computadores.

Mas, neste caso, há uma última e importante resistência que não foi ainda superada: o ecrã revela-se apto para uma leitura fragmentária e condensada, não para a leitura contínua e linear (os links da Internet levam esta aptidão ao paroxismo).

Causou algum frisson a seguinte afirmação de Bill Gates, o presidente da Microsoft: "A leitura no ecrã é ainda muito inferior à leitura no papel. Mesmo eu, que tenho ecrãs de alta qualidade e me vejo como pioneiro do modo de vida Internet, assim que um texto ultrapassa quatro ou cinco páginas, imprimo-o e gosto de o ter comigo e de o anotar. É uma verdadeira dificuldade para a tecnologia chegar a este grau de comodidade."

(...)

Parece então - e este é um ponto importante - que o modelo de leitura a que o livro desde sempre fez apelo, e que implica, entre outras coisas, um tempo próprio, não é o mesmo modelo de leitura e de operações a que induz a rede e o ecrã.
 
É por isso que os leitores de ebooks têm evoluído à medida desta determinação paradoxal: os ebooks são tanto mais perfeitos e considerados eficazes quanto mais imitam os livros.
 
Assombradas por um demónio analógico, estas manifestações supremas do mundo digital aplicam-se a proporcionar ao leitor a sensação de que está perante um novo avatar do livro impresso, que pode folhear as páginas com as pontas dos dedos, escutar o ruído do atrito no papel, sublinhar e escrever nas margens...
 
Os livros digitais parecem ter como preocupação primeira adaptar-se aos leitores do livro impresso. Percebem-se assim as razões pelas quais se extinguiram as profecias da morte do livro e se multiplicaram as apologias, como aquelas que fazem Umberto Eco e Robert Darnton.
 
Este último reserva para o livro digital um futuro que passa por jornais e revistas, incluindo revistas científicas e monografias especializadas.

(...)

Mas, mais uma vez, é sobretudo aos mais dedicados leitores do livro impresso que se dirige o livro digital, numa situação de complementaridade e não de exclusão.
 
Darnton vai mais longe: mostra como as bibliotecas de investigação se tornaram ainda mais necessárias na época do "Google Book Search" e que, sem elas, a digitalização de milhões de livros que a Google já levou a cabo pode redundar no caos bibliográfico em que não é possível aferir a autoridade da cópia digitalizada.
 
Imaginemos, por exemplo, um livro que foi sendo alterado e acrescentado pelo autor em sucessivas edições.

A Google digitaliza-as todas? Digitaliza só a última, suprimindo as várias etapas que a ela conduzem?

A Google, sublinha Robert Darnton, tem ao seu serviço um exército de informáticos, mas não consta que nas suas fileiras haja um único bibliógrafo ou filólogo.

(...)

NOTA - Para a elaboração deste artigo, foi usada a seguinte bibliografia: Robert Darnton, "The Case for Books. Past, Present and Future" (2009); Nicholas Carr, "The Shallows. What the Internet Is Doing to Our Brains" (2010); Roger Chartier, "Histoires de la lecture. Un bilan des recherches" (1995); Hans Blumenberg, "Die Lesbarkeit der Welt" (1979; ed. italiana "La leggibilità del mondo").


Bom artigo.
Leia na íntegra AQUI.

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