sexta-feira, 24 de março de 2017

8 dicas para escrever boas resenhas de livros / "8 tips for writing good book reviews"



Janice Harayda é escritora, jornalista e fundadora do site  One-Minute Book Reviews.

Aqui fica a transcrição das suas 8 dicas para escrever boas resenhas de livros:

1. Seek out books that you can review uniquely well, and say what you alone can say about them.

2. Report facts accurately. Every reviewer’s judgments are at times flawed. But you can build trust with readers, authors, and publishers by getting the facts right even if you’re wrong about the merits of a book. Don’t trust your memory. Go back and check every fact and quote, and the spelling of every character’s name, before you post a review.

3. Answer these questions in every review: What makes this book different from all others? And why should anyone care?

4. Write conversationally. Read your reviews aloud and rewrite or cut anything you wouldn’t say to your smartest friend.

5. Purge your work of “reviewese,” words and phrases you see mainly or only in reviews. Avoid more than obvious clichés such as  “a must-read,” “ripped from the headlines” and “sends chills down your spine.”  Kill “relatable,” “unputdownable” and other publishing-industry neologisms, too.

6. Criticize the book, not the author, if you don’t like what you’ve read. Focus on what’s on the page, not a writer’s character defects.

7. Never review a book by a friend or an enemy. Make this part of a strict ethics code that includes avoiding any conflict of interest or appearance of a conflict. (The trouble is, as others have noted: You don’t know who your enemies are until you review their books.) If an editor asks you to review a book and you have a conflict of interest, say so before you accept the assignment. Have you and the author interacted on Facebook, Twitter or in real life? Editors may or may not consider those conversations a conflict, so spell them out before you before you take an assignment. If you’re reviewing a book for your own blog, disclose any conflicts in the review or a tagline at the end.

8. Find paper mentor, a great critic whose work you love. Read his or her work regularly and take it apart to see how it works. Hand copy the critic’s reviews or parts of them (with a pen or by typing them into a computer) to absorb their rhythm and structure.

© 2013 JaniceHarayda. Fonte: NetGalley


quarta-feira, 22 de março de 2017

"Gajas e pinga: Vamos falar de política europeia" ... Para nos rirmos de Dijsselbloem :)

É mais uma Mixórdia de Temáticas, de Ricardo Araújo Pereira, para a Rádio Comercial:



:)


Os 13 escritores mais bem pagos em 2016 / 2016 best paid writers





Todos os anos, a Forbes revela a lista dos escritores que, ao longo desses doze meses, lucraram mais com os seus livros. Aqui fica a lista dos 13 sortudos:

13 – Dan Brown – 9,5 milhões de dólares (8,9 milhões de euros) — Só no último ano, o autor de “O Código Da Vinci”, “Anjos e Demónios” ou “Inferno” conseguiu angariar 8,9 milhões de euros. Editora nos EUA: Penguin Random House / Editora em Portugal: Bertrand.

12 – Rick Riordan
– 9,5 milhões de dólares (8,9 milhões de euros) — O autor de uma das grandes séries infanto-juvenis, “Percy Jackson”, viu alguns dos seus livros serem adaptados ao cinema e continua ativamente a escrever sobre outros braços da mitologia e do mundo sobrenatural além das aventuras do seu herói original, Percy. Editora nos EUA – Disney Hyperion / Editora em Portugal – Planeta.

11 – George R. R. Martin
– 9,5 milhões de dólares (8,4 milhões de euros) — O autor da saga “Uma Canção de Fogo e Gelo” não publica um livro há seis anos e tem o mundo inteiro à sua espera, mas ainda entra na lista dos autores mais bem pagos devido aos honorários que recebe da série adaptada dos seus livros. Editora nos EUA – Random House / Editora em Portugal – Saída de Emergência.

10 – Paula Hawkins – 10 milhões de dólares (9,3 milhões de euros) — Uma das grandes estreias da lista do ano passado foi a autora de “A Rapariga no Comboio”. Antes do lançamento desta obra, Hawkins não era muito conhecida, mas o thriller mais lido do ano passado transportou-a diretamente para os tops de todo o mundo. Editora nos EUA – Penguin Random House / Editora em Portugal – 20|20 Editora.

9 – John Green
– 10 milhões de dólares (9,3 milhões de euros)
“A Culpa é das Estrelas” e “Cidades de Papel”, duas das suas obras mais conhecidas, já foram adaptadas para o cinema. “À Procura de Alaska” e “Uma Abundância de Katherines” ainda não, mas tendo em conta a receita dos dois primeiros, que Green ainda está a receber, há a possibilidade de também serem. Editora nos EUA – Penguin Random House / Editora em Portugal – LeYa.

8 – Veronica Roth
– 10 milhões de dólares (9,3 milhões de euros) — A autora de uma das séries mais populares entre o público infanto-juvenil, “Divergente”, lançou já este ano uma nova obra, mas no ano passado, mesmo sem contar com ela, ainda lucrou 9,3 milhões de euros. Editora nos EUA – Harper Collins /Editora em Portugal – Porto Editora.

7 – Stephen King
– 15 milhões de dólares (14 milhões de euros) — Outro membro veterano da lista dos mais bem remunerados é outro elemento da realeza, desta vez do horror e do sobrenatural. No último ano, King conseguiu mais de 14 milhões de euros com as suas obras, e no final do verão deste ano vai chegar mais uma adaptação ao cinema de uma delas. Editora nos EUA – Doubleday / Editora em Portugal – Bertrand.

6 – E. L. James
– 14 milhões de dólares (13,1 milhões de euros) — Graças à trilogia erótica “As Cinquenta Sombras de Grey”, à qual se juntou este ano um quarto volume, “Grey”, rendeu à autora a entrada na lista dos vips. Editora nos EUA – Random House / Editora em Portugal – LeYa.

5 – Danielle Steel – 15 milhões de dólares (14 milhões de euros) — Uma das autoras românticas mais bem-sucedidas em todo o mundo continua na lista ano após ano. Ao todo, já conta com 129 obras publicadas. Editora nos EUA – Delacorte Press / Editora em Portugal – Bertrand.

4 – Nora Roberts
– 15 milhões de dólares (14 milhões de euros) — A rainha do romance norte-americano conseguiu a mesma soma que Steele, e continua imparável. Já tem mais de 200 livros editados e, por ano, dá aos leitores mais cinco razões para sorrir. Editora nos EUA – Penguin Random House / Editora em Portugal – Saída de Emergência.

3 – J. K. Rowling
– 19 milhões de dólares (17,7 milhões de euros) — A autora britânica mais lida das últimas décadas, autora da série infanto-juvenil mais lida de sempre, “Harry Potter”, continua de pedra e cal na lista dos mais bem pagos do mundo. Editora nos EUA – Bloomsbury / Editora em Portugal – Porto Editora.

2 – Jeff Kinney – 19,5 milhões de dólares (18,2 milhões de euros) — Outra das presenças habituais na lista dos autores mais bem pagos é Jeff Kinney, graças à sua série O Diário de um Banana, uma das mais populares entre o público infanto-juvenil. Editora nos EUA – Abrams / Editora em Portugal – Booksmile (20|20 Editora).

1 – James Patterson
– 95 milhões de dólares (88,9 milhões de euros) — É, por uma larga margem, o autor mais rico do mundo. Só no último ano, ele e os seus escritores-adjuntos publicaram mais de uma dúzia de livros, numa autêntica indústria. Editora nos EUA – Hachette Book Group / Editora em Portugal – TopSeller.


domingo, 19 de março de 2017

Ainda António Lobo Antunes: para ele, não escrever é ficar doente.




"O que posso fazer? (...) Quando não escrevo não me sinto bem, sinto uma espécie de angústia; uma coisa física difícil de explicar. Tenho a impressão de que me fizeram para escrever."

"Às vezes penso que talvez tenhamos nascido com certo número de livros cá dentro. Se eu não os escrever, a minha vida não tem sentido."

António Lobo Antunes

sábado, 18 de março de 2017

António Lobo Antunes: "O cancro é uma puta, senhor Barata. Livre-se!"



António Lobo Antunes recebeu esta quarta-feira à noite o prémio "Vida e Obra" da Sociedade Portuguesa de Autores. Numa raríssima aparição num evento público, o escritor subiu ao palco, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para receber o prémio e fazer um pequeno discurso.

Até um pequeno discurso deste homem é genial e comovente!

A partir do minuto cinco, Lobo Antunes começou a falar de (e com) um tal de senhor Barata, um senhor que almoça sempre sozinho. A história comoveu a audiência (e a mim também). Veja o vídeo:





Um prémio muito merecido!

sexta-feira, 17 de março de 2017

Campo de Ourique vai receber uma Feira do Livro de Poesia. E começa já este fim de semana



"A partir de sexta-feira, o Jardim da Parada, em Campo de Ourique, vai receber uma feira do livro dedicada exclusivamente à poesia. Uma programação complementar promete animar o bairro até 21 de março.

O Jardim da Parada, em Campo de Ourique, vai voltar a receber uma Feira do Livro de Poesia. Organizada pela Casa Fernando Pessoa, juntamente com a Junta de Freguesia de Campo de Ourique e a Livraria Ler, a livraria do bairro, a iniciativa começa já esta sexta-feira e prolonga-se até 21 de março, Dia Mundial da Poesia.

Além da feira propriamente dita, haverá ainda um programa de atividades que inclui leituras de poesia, oficinas para crianças, visitas guiadas (a preço de desconto), passeios pelo bairro e concertos. Segundo um comunicado emitido esta quarta-feira pela Casa Fernando Pessoa, a grande novidade da edição deste ano da Feira do Livro é a presença de vários editores independentes de poesia, com uma representação “bastante exaustiva”.

E como em toda a Feira do Livro que se preze, também não faltarão sessões de autógrafos. No sábado, pelas 16h, passarão pelo Jardim da Parada Matilde Campilho, Cláudia R. Sampaio, Rui Cóias e António Carlos Cortez. Às 17h, estará disponíveis para autógrafos Lília Tavares. No dia 21, terça-feira, às 17h30, será a vez do angolano Ondjaki (que participa esta semana no Festival Literário da Madeira), de António Carlos Cortez e de Fernando Pinto do Amaral.

A Feira do Livro de Poesia de Campo de Ourique será oficialmente inaugurada esta sexta-feira, às 16h, mas estará a funcionar a partir das 12h. O horário de encerramento é às 20h. No sábado, porém, fechará mais tarde (às 22h). O programa completo pode ser consultado aqui".



quarta-feira, 15 de março de 2017

Escrita: "80% do necessário para o sucesso é aparecer" / Writing: the "discipline of showing up"

Jeff Goins também é um defensor acérrimo de escrever diariamente. No seu artigo "Por que você precisa de escrever todos os dias":

"A ideia é repetição — desenvolvendo uma disciplina de aparecer, fazendo a isto uma prioridade e trabalhando apesar da resistência.

Se você quiser escrever, você precisa começar a escrever todos os dias. Sem perguntas, sem exceções feitas.

Afinal, não é um passatempo de que estamos a falar; é uma disciplina".


A tradução acima é minha. Deixo abaixo o texto original em inglês:

"Jeff Goins is also a wonderful proponent of writing daily. This is from his article ‘Why you need to write every day’:

‘The idea is repetition — developing a discipline of showing up, making this a priority, and working through The Resistance.

If you want to get this writing thing down, you need to start writing every day. No questions asked, no exceptions made.

After all, this isn’t a hobby we’re talking about; it’s a discipline".

Fonte: The Writing Cooperative, em 5 de março de 2017


Já Woody Allen diz que

"80% do necessário para o sucesso é aparecer".



sábado, 11 de março de 2017

7 citações sobre bibliotecas (devidamente comentadas)

Leslie Herman




Há pessoas que têm uma biblioteca como os eunucos um harém.

Victor Hugo

(é verdade, há quem colecione livros como meros objetos de decoração, depois arrumam-nos por cores ou alturas, e ficam só a olhar para eles, sem curiosidade, sem espírito de aventura para desbravar os novos mundos que habitam as suas páginas...numa espécie de impotência intelectual!)


No Egipto, as bibliotecas eram chamadas "Tesouro dos remédios da alma". De facto é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras.

Jacques Bossuet


A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro.

Samuel Johnson

Se temos uma biblioteca e um jardim temos tudo.

Marcus Cícero

(aqui o Cícero exagera um bocadinho, adoro livros e jardins mas há amores ainda maiores que constituem o TUDO da minha vida...)



Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo.

John Steinbeck

(é por estas e por outras que guardo os meus livros numa estante com portas de vidro. Assim não tiram conclusões sobre as minhas ignorâncias e sobre há quantas semanas não limpo o pó ;)...)



Toda uma biblioteca de Direito apenas para melhorar em quase nada os Dez Mandamentos.

Millôr Fernandes

(O homem não deixa de ter uma certa razão!)



Nenhum lugar proporciona uma prova mais evidente da vaidade das esperanças humanas do que uma biblioteca pública.

Samuel Johnson

(Oh Samuel, não é vaidade, é auto-estima, homem! Um bocadinho de vaidade nunca fez mal a ninguém!)

quinta-feira, 9 de março de 2017

O humor corrosivo de Ruben Bolling em relação a Donald Trump / The corrosive humor of Ruben Bolling´s cartoons about Trump


Com quase 30 anos de vida, “Tom The Dancing Bug”, publicado ao longo das décadas em vários jornais e que, todos os dias, pode ser visto no site BoingBoing.net, acaba de ser distinguido com o prémio Herblock Prize Award, na categoria de cartoon editorial. 

Porquê agora? Porque ao longo de 2016, marcado pelas eleições norte-americanas, por vários acontecimentos 'nonsense' e pela inesperada (?) vitória de Donald Trump, a acutilância política dos desenhos de Ruben Bolling fez-se sentir.Confirmem abaixo.

Clique na imagem para aumentar.

"Os Maias" e "Os Lusíadas" explicados por Ricardo Araújo Pereira, perdão, Sr. Américo.

Surpreendemente simples e acessíveis. Não tive eu estas ajudas quando estava no Ensino Secundário!



:D

quarta-feira, 8 de março de 2017

"Era a mulher": um poema de Pedro Homem de Mello


Pelo Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, aqui fica um poema e uma pintura.


Gustav Klimt

Aleluia

Era a mulher — a mulher nua e bela,
Sem a impostura inútil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela...

Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bíblicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.

Era o seu corpo — a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.

Era a mulher — a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo...
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nós, homens, o direito à vida! 

Pedro Homem de Mello, in "Miserere" 

terça-feira, 7 de março de 2017

Os 10 blogues mais lidos em Portugal (e mais alguns)



"Num tempo em que todos têm Facebook, muitos aderem ao Instagram e vários comunicam através do Twitter, ainda há espaço para os blogues? Quem toma conta dos seus com afinco não tem dúvidas. O i dá-lhe a conhecer os mais populares

Se recuarmos 15 anos, chegamos a um mundo sem Facebook, Instagram ou Twitter. Já comunicávamos através de telemóveis e sabíamos usar a internet, mas uma nova forma de interagir estava a começar a dar nas vistas: os blogues.

Hoje em dia, alguns bloggers portugueses continuam a ter milhares de leitores, mas a maioria acabou por perder terreno com o crescimento das redes sociais. Para Paulo Querido, jornalista e autor de livros como “Blogs” e “O Futuro da Internet”, este problema era “previsível”, pois a componente social – elementar na disseminação dos blogues – foi transferida na sua totalidade para as redes sociais. “Portugal não fugiu à regra internacional de perda de socialização para os sites Facebook e Twitter, sobretudo”, explica ao i.

O especialista aponta duas razões para a preferência das redes sociais: o imediatismo das reações e a forma como os conteúdos são disponibilizados aos utilizadores. “As plataformas organizadas, como o Facebook e o Twitter, produzem gratificação mais rápida, praticamente instantânea. [Para além disso], especializaram-se em modelos editoriais e de distribuição de conteúdos que são muito superiores às ferramentas disponíveis nas plataformas de edição de blogues”, afirma Paulo Querido.

Se as redes sociais tiraram “mercado” aos blogues, há, também nesta área, quem as tenha sabido usar em seu proveito e o fenómeno não desapareceu completamente. As páginas no Facebook e no Instagram, por exemplo, ajudam os autores a publicitar os seus blogues, angariando mais leitores. “Planeamentos específicos podem canalizar tráfego para os blogues e gerar algumas comunidades em torno de ideias e conceitos”, diz Paulo Querido. Mas a blogosfera portuguesa tem um calcanhar de Aquiles importante quando se trata de tirar partido das redes sociais: “É maioritariamente genérica, individualista e sem foco”, frisa o especialista, que alerta para o cansaço que o trabalho em duas plataformas diferentes pode provocar: “[Usar as redes sociais como forma de publicitar os blogues] envolve uma grande carga de trabalho e um sentimento de inutilidade, pois a maioria desse trabalho vai beneficiar as plataformas, sobrando muito pouco para os bloggers. Mas não há grandes alternativas.”

Se o enquadramento é este, o facto é que há bloggers que continuam a atrair milhares de leitores. E trabalham para isso.

O blogue mais doce

Segundo o site Blogómetro, página que fornece estatísticas relacionadas com as visitas aos blogues portugueses, os blogues dedicados ao lifestyle e ao desporto dominam a lista das páginas com mais visualizações, possuindo a maioria conta nas redes sociais.

“A Pipoca Mais Doce” é, provavelmente, o blogue mais conhecido de todos e ocupa o primeiro lugar neste ranking, com uma média diária de 26 184 visitas. É apresentado como um “blog pessoal, (às vezes) humorístico e (quase sempre) sarcástico”, e aborda vários temas – da literatura à saúde, passando por futebol, cultura, restaurantes, viagens, temas de atualidade e peripécias do dia-a-dia da autora, Ana Garcia Martins.

“O blogue foi criado em janeiro de 2004 e coincidiu com a altura em que comecei a trabalhar como jornalista. Fui para jornalismo por ser a profissão que me permitia fazer o que eu mais gostava – escrever –, e não tanto por aquela coisa da investigação ou de conseguir manchetes”, lembra ao i Ana Garcia Martins.

“Quando comecei a trabalhar (na altura, no jornal “A Capital”) rapidamente percebi que o meu tipo de escrita e as coisas sobre as quais eu gostava de escrever não tinham espaço num jornal, por contingências editoriais óbvias, por isso vi nos blogues – que estavam a surgir naquela altura – uma ótima plataforma para divagar sobre tudo o que me apetecesse.”

Quando “A Pipoca Mais Doce” surgiu, a blogosfera estava a dar os primeiros passos em Portugal e era difícil angariar leitores. No caso de Ana Garcia Martins, o “passa-palavra” funcionou e, aos poucos, começou a formar-se uma comunidade de seguidores, algo que hoje em dia, com as redes sociais, parece muito mais fácil de conquistar. “Há 13 anos era inimaginável pensar no conceito de ‘blogger profissional’. A verdade é que o blogue acabou por ter um crescimento brutal, superou todas as minhas expectativas. De repente tornou-se um dos blogues mais lidos em Portugal e, mais do que isso, transformou-se no meu trabalho. Felizmente, a curva continua a ser ascendente, por isso acho que a evolução tem sido muito positiva.”

No total, o blogue já acumulou quase 90 milhões de visualizações, apesar de o contador de visitas só ter sido instalado cerca de seis anos depois da criação do mesmo. Mas “A Pipoca” também está nas redes sociais: no Instagram, Ana Garcia Martins tem mais de 142 mil seguidores, e no Facebook mais de 246 mil “gostos”. O segredo do sucesso? Existir uma identificação entre quem escreve e quem lê, defende Ana Garcia Martins: “Acho que os leitores se identificaram com as minhas histórias por eu ser um bocadinho a ‘girl next door’: alguém com problemas, preocupações e alegrias iguais às de tantas outras pessoas. Por outro lado, é um blogue que nunca se escusou a ter uma opinião, independentemente do assunto. Hoje em dia, a grande maioria dos blogues parece-me demasiado neutra, quase como se se receasse dizer o que realmente se pensa.”

No Poupar está o ganho

“A Pipoca Mais Doce” não é único exemplo de êxito em Portugal. No segundo lugar da lista do Blogómetro surge a página “Poupadinhos e com Vales”, um blogue dedicado (como refere a página) à poupança e criado em 2013. Teve a sua origem num grupo fechado no Facebook que em menos de uma semana conseguiu cinco mil membros.

“Sempre fui uma pessoa muito poupada e sonhava mesmo com isto. Queria muito que as pessoas fizessem o mesmo que eu e que descobrissem o quanto era fantástico este mundo das poupanças”, conta ao i Janine Medeira, autora da página. O blogue surge em pleno pico da crise e foi fácil ganhar seguidores. “Era uma espécie de sonho guardado que pensei não vir a concretizar. Quando comecei a receber agradecimentos vindos de todo o país, percebi que tinha atingido o objetivo principal: ensinar os meus grandes truques de poupança e pôr toda a gente a poupar.”

Professora na Universidade do Algarve e com uma vida profissional bastante preenchida, Janine teve de deixar o emprego que tinha em duas escolas – onde dava formação – para conseguir alimentar o blogue que, ao fim de três anos de existência, venceu o prémio de melhor Blogue na Categoria de Economia e Negócios a nível nacional. “Fi-lo porque vi muito potencial na plataforma e as pessoas esperavam por artigos novos, por respostas às suas mensagens, emails e comentários. Não podia desiludir quem confiava em mim. Fiz o blogue para ajudar as pessoas: não conseguia deixá-las à espera durante dias para só depois responder às suas dúvidas.” A ideia acabou por mudar-lhe a vida. “A nível pessoal, atualmente tento trabalhar a todo o gás enquanto os miúdos estão na escola, para depois me dedicar a 100% à família assim que todos chegam a casa.”

O blogue oferece as últimas novidades no que diz respeito a promoções, vales e amostras, seja qual for a área de consumo. Mas, além disso, Janine criou rubricas próprias onde dá dicas sobre vários temas, como moda e culinária – sempre apresentando os preços mais baixos.

Ao longo dos últimos quatro anos, já acumulou mais de 28 milhões de visualizações. E, no Facebook, a página do blogue tem mais de 233 mil “gostos”.

Uma cozinha para todos

No terceiro lugar da lista dos blogues mais lidos surge o “Benficaholic”, uma página dedicada ao Benfica, apresentando as últimas notícias relacionadas principalmente com a equipa de futebol do clube. Tem uma média de 1992 visitas diárias.

Logo a seguir surge um blogue completamente diferente, o “Cinco Quartos de Laranja”, com publicações dedicadas ao paladar e à criatividade na cozinha. Criado por Isabel Zibaia Rafael há 11 anos, este é um dos blogues portugueses mais antigos da blogosfera na área da alimentação e viagens, a publicar sem interrupções desde a data de lançamento.

O nome é curioso, mas também tem uma explicação simples. “A ideia surgiu ao ler o romance da escritora Joanne Harris ‘Cinco Quartos de Laranja’. Na altura senti necessidade de falar da minha vida tendo como ponto de partida a comida, tal como acontecia na obra. No romance existe uma herança que é um livro de receitas que a autora usa para falar dos aspetos que marcaram a sua vida e da sua família. Gostei tanto da ideia que decidi fazer algo idêntico”, lembra ao i a autora.

O blogue procura, para além de partilhar receitas, explorar viagens, visitas a restaurantes, idas ao cinema, livros, dicas e outros assuntos pessoais. Isabel Zibaia Rafael faz um planeamento semanal daquilo que tenciona escrever, tendo sempre como base os restaurantes que frequenta, os pratos que faz em casa e as experiências do seu dia-a-dia.

Também Isabel soube aproveitar o alcance das redes sociais. Tem uma página no Facebook com mais de 147 mil “gostos” e já conquistou mais de 3900 seguidores no Instagram, que acompanham o trabalho que vai desenvolvendo no blogue. Segundo a autora, a mudança nas interações sociais na internet, nos últimos anos, não trouxe qualquer estagnação ao projeto. Tanto o blogue como as páginas nas redes sociais têm tido um crescimento constante.

Em 2016, o blogue registou mais de 10 mil visualizações por dia e foi este sucesso que fez com que, desde há dois anos, Isabel conseguisse dedicar-se a tempo inteiro às suas plataformas: “Neste momento, para além de rubricas patrocinadas e exploração da publicidade no blogue, promovo workshops de cozinha em Lisboa e no Porto e realizo showcookings para marcas. Participo também em eventos e palestras, e colaboro regularmente com revistas. Desenvolvo receitas para marcas tanto nacionais como estrangeiras”, enumera. E, desde 2012, já publicou três livros de cozinha (“Cozinha para Dias Felizes”, “Delicioso Piquenique” e “O Livro de Petiscos da Isabel”). No ano passado foi presença assídua na televisão, com uma colaboração às quartas- -feiras no programa da RTP1 “A Praça”. E o trabalho nunca para. “Há sempre emails a responder, sejam convites, dúvidas dos leitores ou envio de orçamento”, explica. “O ‘Cinco Quartos de Laranja’ é uma paixão!”

A fechar o top-5 divulgado pelo Blogómetro está “A Mulher É Que Manda”, um blogue criado por Mónica Santana Lopes para partilhar as suas experiências como mulher e mãe, os seus gostos e ansiedades e o seu quotidiano.

“[É possível alimentar este blogue] com muita organização, menos horas de sono, mais olheiras e rugas”, resume a autora. “Sou responsável de comunicação de um centro hospitalar, por isso, o meu dia é dedicado ao emprego. Quando saio, dedico-me às minhas filhas, ao meu marido e à casa, e quando elas se deitam atiro-me ao blogue. Durante o fim de semana também dedico parte do tempo a escrever, a criar, a fazer produções fotográficas… Mas tentando sempre conseguir conciliar tudo isto com o tempo de família.”

Mónica Santana Lopes acredita que o segredo por detrás dos cinco anos de sucesso do projeto reside no facto de ser genuíno e não imitar o que já existe. “Aprendi muito, mudei bastante como pessoa, na forma como me apresento ou escrevo. Perdi medos e vergonhas, por isso acho que o blogue me tem feito evoluir como blogger e como pessoa”, afirma a autora, que conta já com mais de seis milhões de visualizações no seu blogue e 114 mil seguidores no Facebook.

Um “blogue-farmácia”

A lista dos dez blogues mais lidos em Portugal completa-se com páginas dedicadas aos mais diferentes temas.

No sexto lugar surge “Internet para Todos”, um blogue dedicado à tecnologia que, apesar de não ser atualizado desde 2014, continua a estar entre os mais vistos.

Segue-se “As Minhas Pequenas Coisas”, um blogue simples que fala sobre aspetos do dia-a-dia e gostos pessoais – maternidade, moda, música, comida, tudo o que faz parte do quotidiano de uma mulher está naquele blogue.

A oitava posição vai para o “Aspirina B”, um blogue dedicado a questões políticas e à atualidade nacional. Na décima posição está “Deixa Passar o Maior de Portugal”, outro blogue dedicado ao Benfica. Pelo meio, na 9.a posição do ranking do Blogómetro está o “Quadripolaridades”, criado em 2007 por duas pessoas com ideias completamente diferentes (daí a polaridade no nome).

“Não é propriamente um blogue temático. O meu marido chama-lhe, com alguma graça, ‘blogue-farmácia’, pois diz que se pode encontrar de tudo por lá”, explica Liliana, a autora que mantém a página ativa e que começou a dedicar-se aos blogues em 2004, “na altura em que as pessoas nem sabiam bem o que era um blogue”.

Não tendo um tema nem uma linha exclusiva como fio condutor, acaba por abordar temas da atualidade, estados de espírito, críticas sociais e reflexões mais íntimas. “Não o considero um blogue de lifestyle, mas acaba por ser uma espécie de diário digital”, diz a autora.

O “Quadripolaridades” faz agora dez anos e desde 2012 que Liliana abdicou do anonimato para participar na organização de um evento solidário. “A perda do anonimato trouxe uma série de pessoas (familiares, amigos, colegas de trabalho) a lerem o blogue, o que veio gradualmente a hipotecar alguns temas sobre os quais me dava algum gozo desabafar mas que, nesta nova dinâmica, deixa de fazer sentido verem a luz do dia”, confessa a autora.

Quanto à “rivalidade” entre blogues e redes sociais, Liliana concorda que estas plataformas se complementam: “As redes sociais trouxeram uma maior mediatização das pessoas que escrevem blogues, vincando-lhes a sua identidade real, permitindo que leitores pesquisem no Facebook as suas relações familiares, no Linked-In os nomes de entidades empregadoras e, no Instagram, rotinas e espaços. Penso que as redes sociais aproximam os leitores dos bloggers e alimentam a leitura dos respetivos blogues”, conclui Liliana, que tem mais de 19 mil “gostos” no Facebook.

Os menos conhecidos

Os blogues de figuras públicas tendem a ter sempre mais destaque. O comentador Cláudio Ramos fala sobre a atualidade cor-de- -rosa na sua página “Eu, Cláudio” e a apresentadora Cristina Ferreira dedica--se à moda, viagens e gastronomia na sua página “Daily Cristina”. Fátima Lopes e Teresa Guilherme são outras apresentadoras com blogues ativos.

Mas, neste mundo dos diários online, não é preciso ser famoso para ter centenas de fãs e há muitos outros blogues que, não estando no top-10 do Blogómetro, são casos de sucesso. Podem não dar tanto nas vistas, mas mantêm um número de seguidores fiéis que os acompanha ao longo de centenas de publicações.

É o caso de Mafalda Sousa, uma mulher de Abrantes que gere o blogue “A Felicidade é o Caminho”, dedicado a temas que fazem a autora (e quem a lê) feliz.

Com mais de dois milhões de visualizações, o projeto requer uma boa dose de planeamento. “Para que as coisas funcionem, tenho um mapa de tarefas onde planeio o que devo fazer ao longo do dia”, explica a autora.

Todos os dias faz pesquisas para futuras publicações, basicamente sempre que tem uma pausa ou antes de dormir. “Também estou habituada a levantar- -me cedo, cerca das seis. E é nesse horário que consigo escrever, normalmente ao fim de semana. Não escrevo tanto quanto gostaria, mas de momento é o que é possível”, conta Mafalda Sousa.

Numa blogosfera que continua a ter centenas de páginas para explorar em português, os métodos de quem está do outro lado do ecrã são tão variados como os temas. Carlos Fernandes, autor do blogue “Vício da Poesia”, prefere não ter um plano de tarefas e escreve apenas quando lhe apetece: “Apenas publico quando estou satisfeito com o que escrevi. E de entre os variados artigos em desenvolvimento simultâneo, condições fortuitas fazem com que este ou aquele me satisfaça e publique.”

Já o blogue do escritor e jornalista José de Matos-Cruz, “Imaginário-Kafre”, funciona de uma forma completamente diferente: “Tem uma apresentação semanal, uniforme e sistematizada, com incidência virtualmente histórica. Quando existem temas de atualidade que considere relevantes, são inseridos como ‘Extra’”, explicou o autor ao i.

Catherine Labey e Jorge Magalhães nasceram em 1945 e 1938, respetivamente. São, por isso, bloggers maduros e mostram como não há limites para qualquer um se iniciar nestas lides. Têm vários blogues dedicados principalmente à pintura e literatura, destacando-se as páginas “O Gato Alfarrabista” (sobre banda desenhada) e “O Voo do Mosquito” (dedicado à revista “Mosquito”). “Criámos cada blogue com determinado objetivo. Eu sou ilustradora e gráfica e adoro gatos. Jorge Magalhães está como peixe na água em relação à BD, de que é grande colecionador, e porque dirigiu várias revistas da especialidade, como o ‘Mundo de Aventuras’, entre 1974 e 1987”, sublinha Catherine ao i.

Se o investimento em tempo e ideias é grande, os autores chegam a locais que nunca imaginariam alcançar: “Descobri que os gatos são um tema muito apreciado. O meu blogue ‘Gatos, Gatinhos e Gatarrões’ é visto nos cinco continentes, em países que nunca sonhei poder visitar”, remata a autora".




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